segunda-feira, 9 de maio de 2011

BUENOS AIRES 2011: 4ª atualização


Nossa, essa semana foi uma semana bastante difícil pra mim em vários aspectos, primeiro porque me deu uma angústia e uma vontade de voltar pra Maceió que foi uma coisa que me deixou metade da semana meio desestabilizada, mas isso sempre acontece, tô com saudades da minha família, dos meus amigos, com milhares de ideias na cabeça e uma coisa chamada TPM que realmente me abala.

Praça atrás do Teatro Colón
Essa semana já começou difícil quando eu tentei visitar o Teatro Colón, mas gente, que coisa complicada, senti um certo despreparo dos funcionários ao prestarem informações a turistas que não tenham mais 65 anos nem sejam estadosunidenses ou europeus, na verdade o que eu senti mesmo foi um certo desrespeito (ignoro o motivo realmente) ao me prestarem informações, não sou muito de reclamar ou me vitimizar, mas eu não aconselho ninguém a visitar o local, exceto que você preencha os pré-requisitos anteriores. Bom, pelo menos eu visitei uma praça por trás do Teatro, que é onde rolam alguns ensaios da Orquestra.

Os dias passaram, sem grandes novidades aqui em terras portenhas, muitas ideias na cabeça, muita coisa que quero realizar, mas aí vai ser quando eu voltar para Maceió porque dependem da minha presença, porém nesses dias de marasmo, segui o conselho de nossa queridíssima amiga-atriz-devassa Ivana Iza e fui visitar El Ateneo, a livraria que funciona num antigo teatro, o lugar é mágico, lindo mesmo, assim que você entra dá de cara com um teto pintado com figuras mitológicas [eu acho] e você sente o quanto isso é especial, o quanto aquele lugar é especial, pena que não consegui tirar nenhuma foto boa do teto, mas estar num lugar sagrado que é um prédio teatral, que se transformou num acesso à preciosas fontes de conhecimento, nossa, não tem como descrever.

Espetáculo "Los Cordeiros"
Minha semana continuou difícil na Sexta-feira, fomos [Ana Woolf, Natália Marcet, Cecília Ruiz e o marido dela que eu esqueci o nome] assistir um espetáculo chamado "Los Cordeiros", não é julgando o trabalho de ninguém, cada um faz aquilo que lhe apetece, mas com o apoio financeiro que o espetáculo teve era pra ser outra coisa, meu maior problema era entender o que os atores falavam, eu pensava que é pelo fato de ser brasileira, mas até mesmo os argentinos com quem eu fui assistir o espetáculo não conseguiram entender muita coisa, logo, algo de errado não estava certo. Nada além de grito e histeria, nenhuma mudança de luz, nenhuma transição, NADA. Medo de coisas assim, mas o local de apresentação é uma graça, um antigo galpão que foi transformado em teatro [como a maioria dos daqui] o Teatro Timbre4 possui uma sala grande, bem equipada e tem dois prédios próximos, eu fui no prédio da Calle México, gostei bastante do espaço, embora a peça tenha me feito pensar que aqueles tinham sido os AR$30 mais mal gastos até agora. A vantagem é que teatro também serve para socializar, então vamos a parilla.


Espetáculo
"Bernarda Alba al desnudo"
Abaixo, Teatro Arlequino
A segunda má escolha do meu fim de semana, MEDO, PAVOR E PÂNICO, "Bernarda Alba al desnudo", eu defino como APELAÇÃO, o texto quase se mantém como o original, tem atrizes boas, outras ruins, Bernarda e Poncia são feitas por atores [ficou bacana, eu gostei disso], mas as aparições dos meninos nus no meio de algumas cenas fez com que eu tivesse vontade de fazer duas coisas: ou rir ou jogar um sapato neles, quebrava totalmente o clima, mas enfim, pelo nome eu deveria ter desconfiado dessa armadilha, mas juro que quando li ao desnudo não achava que fosse no sentido literal. Essa já é a segunda versão que eu assisto de "A Casa de Bernarda Alba", nossa, eu gosto muito desse texto e sinceramente acho que tô ficando com medo de assisti-lo, bom, um dia eu desapego. O Teatro Arlequino, tem uma carinha de decadente, mas eu achei charmoso, não sei o que me encantou no lugar, palco de tamanho bom, acústica boa, gostei das acomodações pra plateia, de todos os que eu fui até agora é o mais confortável.

Bom, pra passar um pouco dessa minha frustração, fui a um lugar na Plaza Serrano em Palermo Soho, o Complejo Brujas Madagascar, lugar de gente jovem e descolada, nada com cara de lugar pra turista, um disco-bar bem bacana, pra mim meio complicado de paquerar, mas gostei do lugar, só é chato pra ir sozinha, e nessas horas é que a gente lembra dos queridos amigos, e quando o assunto é gente jovem e descolada com com copão de Quilmes não tenho como pensar noutra pessoa que não minha querida amiga Pam do Estúdio Máquina de Ideias .


Bom, o fim de semana terminou bem, encontrei amiga-performer Charlene, que passou breves seis horas em Buenos Aires enquanto esperava pra voltar pra o Rio, depois de participar de um festival na cidade de Rosário, além da felicidade de reencontrar uma amiga muito querida e poder falar português com quem fala português, considero encontros desse tipo preciosos pela possibilidade de troca de informações e impressões, nosso material de trabalho é a vida em si, teatro é isso, é o que nos circunda e não tem como ignorar a preciosidade de nossas experiências cotidianas. E estar deslocada da minha cidade natal para ter essas conversas, acrescenta ainda mais o nosso contexto e situação de vida, é justamente com Charlene que tenho essas conversas mais edificantes, claro que tenho conversas assim com outras pessoas, mas nós não nos encontramos em Maceió, estamos sempre em trânsito, e esse trânsito me faz pensar que a acomodação e comodidade não são ações, ou melhor, falta de ações que acrescentem ao fazer teatral, se nem a ostra tá parada porque nós artistas estaremos... minha frase pra Charlene na despedida da gente depois de longos papos foi: "A gente se encontra por aí em algum lugar do mundo..." e eu quero poder repetir isso pra várias outras pessoas.

No Subte Línea A,
a linha de metrô mais antiga
da América Latina

Ah, antes que eu esqueça do fato histórico da Quinta-feira passada, tenho que registrar aqui a minha felicidade pelo RECONHECIMENTO DA UNIÃO HOMOAFETIVA pelo STJ, independente de orientação sexual essa foi uma vitória da cidadania, dando a todos a equiparidade de direitos, já que os deveres e impostos são os mesmos, eu realmente não acreditava que a minha geração [e eu também, claro] tivéssemos acesso à um direito agora assegurado por lei. Na minha opinião, era um absurdo um país como o Brasil, repleto de diversidade cultural, de proporções continentais ainda não haver aprovado essa lei, se deixando influenciar principalmente pelas manobras políticas de uma pseudo-maioria que teme qualquer tipo de manifestação social que fuja do seu controle.

2 comentários:

  1. É preciso que estejamos em conexão com o nosso trabalho a todo tempo. Precisamos nos comprometer no amplo sentido da palavra; A etimologia do verbo comprometer indica que a palavra significa “fazer promessa com". Fazemos promessas com o que nos é caro, raro.

    Lembro-me agora a pergunta que fiz ao Renato Ferracine recentemente: Renato, quanto tempo vocês treinam? Ele me respondeu: Hoje treinamos 3 horas por dia, durante 5 dias da semana, só não quando estamos em viagem; Mas nos primeiros anos do LUME treinavamos 8 horas por dia (Lembrando que o LUME já tem 25 anos).

    Lembro-me também que antes do primeiro espetáculo Grotowski ficou com todo elenco 8 anos em treinamento técnico.

    Não é possível que tenhamos um comprometimento pela metade. Gosto de uma passagem bíblica que fala que Deus não suporta ninguém morno. Ele prefere que se seja frio ou quente, sendo morno ele (Deus) com toda certeza vomitaria! Acho isso muito forte, mas válido. A arte do Ato(a)r, do performer exige tempo, experimentações, descobertas para que tenhamos a possibilidade de agir!

    A filosofia oriental diz o seguinte, que todos nós estamos condenados a agir, mesmo que não se queira fazer nada estamos agindo para o nada!

    Quando escolhi fazer teatro, ou quando fui escolhida (nunca se sabe), a única certeza que tinha era que queria está em movimento. Passado os anos tenho certeza que quero está em movimento por meio da arte, por meio da performance! Quero agir para além do que é obrigação, quero agir para além do que é comodo, do que é confortável, até mesmo para buscar lugares de prazer!

    Quando vejo esse seu texto amiga Beny, vejo que comugamos, por meio da arte, por meio da vida. Quero muitas vezes encontrá-la pelo mundo, um mundo sem fronteira, ou com fronteiras que não nos impeça de nos movimentarmos. Viva aos territórios Flutuantes! Assim como você, desejo enormemente que isso se expanda, que possamos encontrar outras pessoas nesse fluxo.

    Neste Sábado apresentarei a performance Pele de Papel no Museu da República no evento Perpendicular. Fazendo essa performance encontrei um poema de um alagoano chamado Nilton Resende que para mim resignifica as relações que quero manter com as pessoas que me interessam (não no sentido de mercado, mas de troca). E claro para pessoas que eu possa me interessar neste fluxo, que é aberto!

    MOTIVO

    dispo-me
    como quem quer se dar. Desvelando-se,
    expondo as faces, as dobras,
    os caminhos.
    Entregando o peito, a nuca,
    o calcanhar. Como quem necessita
    ser frágil no braço do outro. Desmaiado
    num colo precioso. Dispo-me
    para ser amado.
    Matendo um véu.

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  2. O Subte Línea A é uma graça,uma viagem no tempo, não é? Me senti num filme dos anos 30.
    Fiquei muito feliz de você ter ido visitar o El Atheneu, lugar mágico, chorei horrores lá. :)
    Se cuida por ai, viu?

    Beijos, beijos mil.

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