domingo, 12 de dezembro de 2010

Enraizar: Criar raízes, prender-se pela raiz, arraigar




Acredito que esse verbo é o melhor para definir um evento chamado SOLOS FÉRTEIS em Brasília, não apenas pela sugestão do seu próprio nome, mas pela mítica envolvida nas oficinas, demonstrações de trabalhos e nos próprios espetáculos.  Desta vez já imaginava o que poderia encontrar num festival de teatro feito por mulheres, mas como não pode deixar de ser, cada encontro foi surpreendente e os reencontros preciosos.


Assim que fomos para primeira manhã de oficina, Letícia Resck – atriz, equipe de produção e naquele momento cicerone brasiliense para as não-brasilienses – citou um conto de Clarice Lispector em que a mesma dizia ter a impressão de que a cidade de Brasília estava brotando no meio do “nada”. Dias depois durante a apresentação do espetáculo Rosa Cuchillo de Ana Correa (Peru), escuto Lúcia Sander comentar que uma das coisas mais lindas que ela poderia ver era justamente uma índia peruana se apresentando ao lado do Museu Nacional, em plena Praça da República, no meio de tanto concreto. Tudo se correlaciona, fincado, brotando, se expandindo em nossas mentes. Literalmente estávamos envolvidas dos pés à cabeça.

Pois bem, durante cinco dias, tivemos a oportunidade de nos enraizarmos não apenas nos solos férteis do teatro, mas também da convivência e respeito mútuo, além da troca de informações e experiências de mulheres vindas dos quatro cantos do Brasil e de vários lugares do mundo, diferentes idades, formações e informações distintas nos levou a compartilhar deste encontro, que poderia ganhar vários adjetivos como disposição, diversidade, teimosia, curiosidade ou simplesmente coração aberto.

E foi o que mais encontramos, corações abertos da equipe de produção para nos receber com todo carinho possível, com todo amor necessário para se promover um festival deste tamanho e desta importância, e o mínimo que podemos fazer é agradecer e parabenizar Luciana Martuchelli e toda sua equipe por serem só coração com todas nós. Esse mesmo coração aberto foi encontrado também nas participantes como um todo, nos momentos de descontração durante as refeições e translado de um lugar para o outro, os cafés e as conversas, as fotos e filmagens, nas descobertas de afinidades e até nas possíveis parcerias para projetos futuros e possíveis reencontros em outros eventos do Magdalena’s Project.

Em qualquer tamanho do evento e de proposta de discussão, toda oficina sempre é uma troca importante de experiências e impressões, mas acredito que, para todas as participantes assim como acontece comigo, as escolhas sempre caem perfeitamente bem em relação às nossas necessidades do momento, foi o que senti com Natalia Marcet (Argentina) na oficina Meu corpo-meu lar. Para ser, tem que estar. Dada a minha dificuldade particular em trabalhar com corpo e com as lembranças, me senti completamente à vontade justamente pelo cuidado e carinho dela com as pessoas envolvidas naquela troca de experiência, pois se o tema era memória, as gavetas da lembrança não poderiam ser remexidas, reviradas inadvertidamente, elas teriam que ser abertas com todo respeito possível. E depois de assistir seu espetáculo Gordas, fica muito mais claro que somos todas mulheres de carne, osso, conflitos e desejos.

Essa mesma carne, osso, conflitos e desejos também ficaram claros em todos os outros trabalhos apresentados, a vontade de expor, de falar de assuntos muito íntimos e delicados, ou de dividir com o público suas impressões sobre temas polêmicos e políticos. Além, claro, de ver atrizes experientes como Ana Woolf e Julia Varley compartilhando suas técnicas e dificuldades sobre o desenvolvimento de seus trabalhos, nos fazendo ver o quanto é possível também sermos mulheres possíveis, como podemos nos perceber como atrizes, diretoras, dramaturgas, dançarinas e performers, e como o fato de sermos mulheres que trabalham com teatro impactam nossa sociedade.

Consciente ou inconsciente, minha leitura desse ACONTECIMENTO foi um pouco o retorno às nossas origens ancestrais. A relação do feminino com a Terra, com tê maiúsculo mesmo, no sentido de grande-mãe sempre cultuada nos povos antigos, e que, foi se perdendo um pouco com o passar do tempo, me pareceu tão presente e tão forte em todas as nossas atividades, que não sei como explicar, talvez a lua cheia tenha sido responsável por isso. Independente de cor, credo, origem, orientação sexual, postura política e particularidades em geral, reencontrar-se talvez seja a tendência dos nossos projetos tanto profissionais como pessoais. Um olhar voltado para si, mas sem esquecer do outro, um olhar feminino sobre o outro.


Os pés que saltavam eram os mesmos pés que dançavam o frevo, que se enraizavam nas oficinas, que fluíam levemente entre os espaços nas demonstrações, descalços, com meias, em sapatos diferentes ou nos tênis e saltos altos das participantes, esses pés eram os mesmo pés que bateram no solo do teatro da UnB, tremendo o palco e a arquibancada num ritual de comunhão entre histórias reais e a “ilusão” produzida pelo teatro, além, é claro, da celebração de um encontro único de almas afins.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

breve paixonite e outros exageros

Sem paixonites ou outros exageros passionais, mas é que eu não consigo passar imune a determinadas pessoas que atravessam a minha vida. Pois bem, sábado (dia 23/10) conheci alguém bacana que mexeu comigo, mas mexeu com calma, sem grandes ansiedades ou turbulências.

Tô empolgada, mas tô controlada, e sinceramente acho que não vai passar do que já aconteceu, mas tô de boa com essa situação. O que eu gosto de observar é o quanto somos dependentes da opinião de terceiros para nos darmos conta do que nós somos, o quanto precisamos de uma resposta do outro pra termos "certeza" de que somos interessantes, desejáveis, beijáveis e todos os outros áveis possíveis...

Quero muito que essa situação flua, não só pelos belos olhos verdes que conheci e que me chamaram atenção antes mesmo de saber qual era sua cor, quero que flua porque me sinto aberta pra o mundo, mas entenda-se fluir como EVOLUIR não NAMORAR - pra mim são conceitos muito distintos.

Fazia tempo que não me sentia assim, nem sei se é tão por ela ou se é mais por mim. Sem paixonites ou exageros, tudo passa, e acho que isso está passando também.

domingo, 12 de setembro de 2010

Peixinho dourado

Não perca seu tempo, seu sono, sua juventude...
Não vale tanto a pena assim.

São somente poucos dias de plenitude
São somente poucos instantes de mim.

A convivência revela o que a conveniência oculta,
Me guarde em pensamento e cultive uma memória curta.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sem diário de bordo

Estou em Guaramiranga/CE, participando de um Festival de Teatro já tem uma semana e ontem é que me dei conta que esqueci meu Diário de Viagem em Maceió, tudo bem que ele mais um caderno de impressões do que qualquer outra coisa, mas eu estava com uma vontade quase incontrolável de escrever ontem. Não digitar, mas ESCREVER, ter a caneta sobre o papel dando vasão aos pensamentos, seguindos os instintos quase como um brain-storm.

O que se passou é que eu tive uma porção de ideias, tanto em relação à possíveis montagens quanto aos meus afetos. Sim, eu me afeto por eles, não consigo passar imune pelo o que me afeta.

É confuso, nessas horas eu percebo que sinto saudades de coisas simples, e fico me perguntando como fazer para consciliar essa vontade de sempre estar indo embora com os vínculos imaginários que me unem a minha terra-Mãe (e isso porque eu estou numa cidade distante apenas vinte horas de ônibus, ainda na mesma região, imagine se fosse noutro continente).

Podendo ESCREVER é como se eu me aproximasse um pouco mais de casa, um pouco mais daquele lugar que tenho como meu abrigo. Parecendo existir uma linha imaginária que desloca meu pensamento para minha casa, minha cama, meu quarto...

Parece que volto uns vinte anos no tempo, na época em que eu passava três meses em Maceió e nove meses em Vitória, com convívio seletivo com parentes por causa dessa transitoriedade. Gosto de viajar, de conhecer outros lugares, pessoas, de arrumar e desarrumar a mala, de ter mais conteúdo/novidades quando volto pra casa, mas parece que cada vez mais eu sinto mais saudade.

Chego em Maceió dia 13, viajo novamente dia 16, regresso para casa dia 25. Espero que dessa vez eu não me esqueça de por na mala meu Diário de Bordo, talvez, algum dia, o que está escrito nele faça parte de algo muito maior.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O início da Travessia

Estou vendo que usar a palavra "início" para nomear minhas postagens é uma coisa recorrente, mas lembro sempre daquele ditado chinês que diz que "Toda longa jornada começa sempre do primeiro passo", que o valha. Vou postar aqui abaixo o relatório que escrevi sobre as atividades do Vértice Brasil 2010: Travessia. Bom, segue abaixo meu relato.

Quando Julia Varley me deu a missão de escrever este relatório sobre o Vértice Brasil 2010 - Travessia pensei imediatamente na dificuldade que teria em fazê-lo pela formalidade desta minha “tarefa”, mas lembrei que a própria Julia em um determinado momento abordou que a forma de escrita da mulher acabava sendo vetada em alguns editoriais de teatro pela afetividade presente nos textos, pois bem, sejamos afetivas então.

Este será um ponto de vista muito particular, pois quando efetuei minha inscrição no Vértice não fazia a menor idéia do que realmente se tratava, nunca tinha ouvido falar no Magdalena’s Project e depois de ver no site a programação do evento ainda achava tudo muito distante da minha realidade.

Como o tema do Vértice desse ano foi TRAVESSIA, nada melhor do que esta palavra para diminuir as distâncias, e acredito que foi justamente o que aconteceu com a maioria dos participantes (considerando sempre a presença dos homens que participaram do evento), não era apenas discutir a condição da mulher no teatro, ou apenas a busca por aperfeiçoamento profissional, era o acolhimento, a convivência, o compartilhar.

Nos oito dias de imersão podemos compartilhar de cinco oficinas, catorze espetáculos, sete palestras, três demonstrações, vinte e três refeições, além das apresentações de cenas e de vários trajetos de van ou micro-ônibus, seria impossível não criar vínculos, não nos aproximarmos descobrindo afinidades e respeitando diferenças. E apesar do cansaço físico pela intensidade das atividades, dar vazão às novas rotas e conexões surgidas ao longo da semana compensavam qualquer sacrifício, inclusive das poucas horas de sono e da pressa durante as refeições.

Alguns cruzaram o estado, outros o país, outros tantos o oceano para se fazerem presentes e participantes de algo que não deveria se chamar de evento, talvez a palavra que caiba melhor neste caso seja ACONTECIMENTO, dadas as transformações fecundadas naquele momento.

As duas oficinas que vivenciei foram: Cruzando Fronteiras de Geddy Aniksdal e Ei, não sou mais eu... a experiência da máscara e da visita a um corpo/personagem "esculpido” de Claudia Contin. Ambas, ao meu ver, embora muito distantes em seu conteúdo, evidenciam a necessidade de treinamento físico para a busca da dramaturgia do ator, considerando sempre seus referenciais pessoais como um dos daminhos para se alcançar outros estágios, além da disponibilidade para permitir-se experimentar.

Com a demonstração das outras oficinas digo, sinceramente, que deu vontade de fazer todas, não apenas pelo conteúdo de cada uma delas, mas pelo entusiasmo das oficineiras, que assim como Geddy e Claudia demonstravam cuidado e muito apreço tanto pelo ofício quanto pelos participantes.

Considero o momento das Rotas tão interessante quanto as oficinas ou demonstrações de trabalhos justamente pela abertura à discussão de aspectos fundamentais para quem trabalha com teatro, indo desde o teatro como ferramenta de inclusão social até relatos de pesquisas baseadas em processos de montagem.

Da mesma maneira vejo a demonstração de trabalhos e a apresentação de cenas, por mais distintas que sejam as linguagens e metodologias, amplia nossos horizontes, uma vez que observar o trabalho de outras pessoas faz com que se abra um espaço para o diálogo e até mesmo a identificação, já que percebendo no outro um trabalho semelhante não nos sentimos mais tão solitários dentro de nossos processos de pesquisa/montagem.

Quanto aos espetáculos, independente do gosto pessoal, recebemos este presente da organização do Vértice, pois tanto os espetáculos de Florianópolis quanto das artistas convidadas além do deleite estético nos dava a inquietação de continuarmos lutando por um teatro possível, pautado em pesquisa, com argumento, com fundamentação teórica e experimentação prática, utilizando a multimídia de forma convergente e exaltando o material humano em cena, buscando do ator melhor que ele pode oferecer, pois, não é todo dia que temos a oportunidade de ver em cena referências do teatro mundial como Julia Varley, Ana Woolf, Geddy Aniksdal, Brigitte Cirla e Claudia Contin – e todas as outras artistas convidadas, de todas as linguagens, com suas características tão específicas.

São ACONTECIMENTOS assim, como o Vértice, que conseguem acessibilizar aquilo que a princípio é muito distante para a maioria dos profissionais de teatro, digo isso no que diz respeito às oficinas e aos espetáculos, mas o principal está no espaço para nossos questionamentos do lugar da mulher dentro do teatro e como nos colocamos em relação a isso, se pretendemos continuar à margem dessa travessia ou se pretendemos enfrentar as dificuldades e cruzar todos os obstáculos para conquistarmos um espaço que nos foi rejeitado durante tanto tempo.

Pela primeira vez, pude ver em cena, mulheres de várias gerações, com formação muito diferentes, com histórias de vida muito peculiares, mas que estavam ali por acreditar em algo muito maior, por acreditarem em si e na sua capacidade de transformação do mundo através do teatro, o que me enche de esperança, pois se em 1986 iniciaram o Magdalena’s Project, em 2004 começou a se pensar no Vértice, daqui pra frente muito ainda pode se multiplicar e buscar uma continuidade nas atividades.

Em relação à organização, podemos resumir tudo em duas palavras: acolhimento e respeito, embora nunca tivesse visto aquelas pessoas em toda minha vida, a impressão que tinha é que estava lidando com amigas de longa data, pela disponibilidade, paciência, cuidado e delicadeza com a qual estávamos sendo todos tratados, claro que isso ia se refletindo entre nós participantes, estávamos todos ali com uma finalidade específica de forma harmoniosa e bem organizada, clara, direta, objetiva, porém, sem autoritarismo, tendo no diálogo o princípio de tudo. Nunca é demais dizer que Marisa e equipe estão de parabéns.

Depois de ter sido “responsabilizada” de escrever este relatório, Julia pediu que os participantes dissessem um desejo e um objetivo, depois de ter vivenciado tudo que vi, compartilhado de tantas conversas, apreendido tanta coisa pela simples convivência, o mínimo que eu podia fazer era ser sintética e abrangente, e dizer que meu desejo e meu objetivo eram um só “Não desistir de mim como atriz.”, que outros Vértices venham, que outros participantes se agreguem, que possamos assim transformar um pouco mais aquilo que já nos é sagrado, o teatro.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sim, ninguém disse que seria fácil

Nossa, tive um dia pesado hoje, não sou muito de escrever como se fosse um diário, mas tenho que compartilhar isso com alguém, nem que seja virtualmente. Passei por três ensaios completamente diferentes hoje. Pela manhã estava ensaiando A COR DA CHUVA, nesse estava como diretora, desafiador, e por enquanto tudo muito tranquilo e nenhum pouco estressante.

Mas, à tarde, mais uma vez repensei se devo ou não continuar no palco, às vezes me dá uma vontade de sair correndo, só que eu sei que não teria coragem de abandonar justamente aquilo que mais gosto de fazer. Ensaiávamos VOO AO SOLO, trabalhamos o fragmento de um texto de Raquel de Queiroz, foi muito difícil pra mim, na verdade está sendo muito delicado me relacionar com este monólogo, não que não goste dele, de jeito nenhum, sinto que será meu objeto de estudo constante, o racional entendia o sentido, a marcação, a direção, mas insistia em me travar um pouco. Deu vontade de sair correndo de novo, só que dessa vez, pra ver se meu corpo acordava e conseguia corresponder o que texto e pensamento compreendiam, enfim, levei uma surra de mim mesma, no mal sentido.

Dia 02 estou indo pra Fortaleza, menos de três ensaios para (re)definir o espetáculo, um pouco de medo, um pouco de ansiedade, mas estamos trabalhando para reverter tudo isso.


terça-feira, 17 de agosto de 2010

VOO AO SOLO 2.0

Ainda não sei bem o que estou pesquisando, ou o que pretendo pesquisar, mas como o espetáculo VOO AO SOLO foi selecionado para participar do XVII Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga/CE, Marco Antonio (meu querido diretor) e eu pensamos em fazer algumas modificações no texto, para explorar principalmente o meu desconforto em cena. Pois é, agora mais exposta do que nunca, o que não é de todo ruim, é só outra forma de se mostrar e de se resignificar. Eis o novo texto:

Ela me ligou (?)

Ela me ligou, sabia que eu não estava aqui, sabia que eu não ia atender, que eu não podia atender, mas mesmo assim me ligou. Só vi seu telefonema cinco horas depois, mandei mensagem, perguntei se estava tudo bem, se era urgente. Ela nunca me ligou, nunca, mas naquele dia fez. Podia ser por qualquer coisa, qualquer motivo tolo ou emergencial... Por que diabos ela me ligou? Alguns poucos minutos separaram minha mensagem do novo telefonema, retornei, nunca tinha escutado sua voz ao telefone, os ruídos, a má qualidade da ligação quase fazia impossível nossa comunicação, mas ainda assim eu era capaz de ouvir sua voz. Como sempre, brincou, falou do tempo, da agenda de trabalho, das dores musculares... e me deseja feliz dia do amigo... Como assim? Feliz dia do amigo? Ela é minha amiga? Ela me considera como amiga? A maioria dos meus amigos fez isso mandando mensagem pra o meu celular, ou pra o meu Orkut, ou facebook, ou twitter. Ela nunca me ligou, será que realmente só telefonou pra me desejar “Feliz dia do amigo”... é muito deboche, mas eu não fiquei ofendida não, muito longe disso, na verdade eu queria ter falado com ela, pra saber o que se passava pela sua cabeça, mas eu continuava sem saber o que de fato estava acontecendo. Parecia que todos os pensamentos descoordenados povoavam minha mente, e dois deles me saltavam aos ouvidos com aquela voz que eu nunca tinha ouvido pelo telefone. Minha consciência pessimista interpretava o telefonema assim: “Perceba que eu considero você como AMIGA.”, já minha consciência otimista com mania de construir castelos de areia só conseguia ler os sinais assim “Eu tô com saudades de você e precisava de um motivo bem ridículo pra te ligar e poder escutar sua voz.” Provavelmente o telefonema só significava o que realmente significava, nem mais nem menos. Mas o problema estava no fato de eu ter assumido ter sentido saudades, eu, eu mesma tinha me ofendido com toda essa sinceridade espontânea – quatro taças de vinho na cabeça me faziam ridiculamente espontânea.

Vento na Jangada

Enfrento mares revoltos em terra firme
Navego oceanos atracada num porto
Mas não acredite em tudo que eu afirme
O único território que tenho é meu corpo.

Sigo para onde o vento levar minha jangada
Levo o pouco que tenho dentro da bolsa
Mesmo que meu pouco se resuma a nada
Levo inclusive comigo o coração dessa moça
(ou só a sensação de estar apaixonada)

Enfrento trilhas, estradas e caminhos
Seguindo à pé, passos desacelerados
Assim como são os meus carinhos
Mesmo dando abraços errados.

Sigo para onde minha bússula me aponta
Finjo não sentir remorço ou saudade
Se sentir minha falta, não leve em conta
Um dia eu volto pra essa realidade
(só pra ver como nossa vida se apronta)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Vértice Brasil 2010: Travessia

De fato travessia, de fato cruzando fronteiras, escalando uma Torre de Babel onde todas/todas se entendiam perfeitamente bem, confesso que quando me inscrevi para participar do Vértice Brasil - ocorrido em Florianópolis de 16 a 24 de Julho - não fazia muita ideia do que se tratava, só sabia que se tratava de um encontro de teatro voltado para as mulheres, nada além disso, mas melhor do que fazer ideia foi vivenciar, foi experimentar.

Durante oito dias passamos por uma programação muito intensa, que comportava duas oficinas diárias, uma palestra e dois espetáculos, e no intervalo entre todas estas atividades nossas refeições, que acabavam sendo o momento dos encontros informais e troca de impressões. Tinha participantes de quase todos os lugares, e eu, só pra variar, era a única representante de Alagoas, durante o decorrer dos dias o pensamento que mais me vinha a mente era "As meninas precisavam estar aqui..." (só vivenciando para entender o que se passa numa imersão como essa, não dá pra compartilhar certas impressões, só é possível tentar plantar um gérmen de curiosidade para que se contaminem a participar numa próxima ocasião).

Uma mescla de sotaques, de linguagens, de vivências, de experiências, de idades... mais uma vez eu sinto aquele friozinho no estômago e me sinto tento muita sorte de estar no lugar certo no momento certo, a sensação de que conhecia determinadas pessoas há anos embora tivesse conhecido no dia anterior. Mais do que o compartilhar da experiência artística compartilhamos uma experiência humana.

Ainda estou digerindo um pouco a intensidade do que vivenciei, mas ter visto em cena nomes como Julia Varley, Anna Woolf, Geddy Aniksdal, Brigitte Cirla e Claudia Contin (que também deram oficinas) já faz com que se perceba que o teatro é algo que não deve ser abandonado em momento nenhum, por nenhum motivo ou dificuldade.

Toda equipe está de parabéns pela organização e acolhimento, certamente cada uma de nós se sentiu parte fundamental dessa imersão, e, pelo menos da minha parte, dá aquela vontade de tentar organizar algo assim aqui em Maceió - afinal, o Brasil é um país continental e as regiões tem problemáticas e características muito peculiares.

Este evento está ligado há rede Magdalena's Projetc que tem como objetivo discutir o teatro feito por mulheres ao redor do mundo, nossa, ter participado deste ACONTECIMENTO faz com que nós não nos sintamos tão sozinhas nas nossas atividades regulares de teatro, além, é claro, de servir como inspiração.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Muito cuidado com o que você deseja

"Muito cuidado com o que você deseja, muito cuidado com o que você fala, o vento leva seus desejos e trazem eles de volta...", dizia minha avó quando eu era criança, foi ela quem me ensinou a rezar, fazer promessas (e cumpri-las, claro!) e todas essas coisas esotérico-místico-católica.

Poucos dias atrás lembrei disso.

Estava sentada com um amigo nos dormentes da linha do trem, entre o domínio do dono dos caminhos e das senhoras dos desejos, eu, do nada, no meio de um pequeno silêncio eu solto inconsequentemente e sem pretensões: "Eu quero me apaixonar, nem que seja um pouquinho...", meu amigo - que já acompanhou a maioria das minhas paixonites agudas de uma semana - só riu.

Tudo bem, sem suspeitas ou intensões sigo meu caminho, os dias passaram normalmente, e de modo constante e improvável eu a vejo sempre, embora sempre estivesse ali, eu a vejo. Tinha visto antes, tinha pensado sobre, tinha até falado com, mas nunca tinha falado antes com sobre...

Sinais. Por que eles existem, e se igualmente existe destino, igualmente ele manda sinais. Sonhei com, justamente sobre, semi caos em minha mente, mas segui, e se sinais existem, destino existe... e por que conhecidências não haveriam de existir?

Embora não a veja, leio sua presença - que de tão forte não sai da minha cabeça -, talvez ver fosse mais sutil, mais a conta gotas, se bem que nada nos meus afetos foi sutil, tudo muito arrebatador e apressado, e eu que não tinha pressa em com sobre... agora temo a velocidade dos fatos, os fatos me afetam, e os meus afetos mais ainda.

Meus sonhos se insinuam, ela se apresenta, meu horóscopo me previne e uma carta de baralho me confirma o que nem sei se ela ao menos imagina reafirmar - mas se não reafirma parece muito bem o fazer - caos completo em minha mente.

Da noite para o dia eu não mais saio imune ao que desejei alguns vários dias atrás e quase nem me lembrava.

Me chamo Daniela por causa de Daniel - aquele da Bíblia dentro da cova dos leões - e se ele acalmou os leões, tenho que ter mais cuidado com a força das minhas palavras.

sábado, 29 de maio de 2010

Viagem no tempo e no espaço - ou pequeno fragmento de como era em São Paulo

Aconteceu uma coisa inusitada hoje, refiz a minha seleção de músicas do mp3-player, ok, até aí tudo bem, mas me senti deslocada no tempo e no espaço, me senti voltando dois anos no tempo. Em Maio de 2008 estava em São Paulo prestes a estrear o espetáculo OS POSSESSOS, bateu uma saudadezinha da experiência - que nunca mais se repetirá, obviamente - mas deu saudade mesmo dos amigos, das pessoas que conheci naquela situação tão peculiar.

Sempre digo que independente de onde eu esteja sempre sentirei saudades de alguém, seja amigos, amores, afetos, parentes, lugares, cheiros, sensações. Sinto falta do frio de São Paulo, embora não goste muito de frio, na verdade não gosto nenhum pouco de frio - foi o aspecto mais aterrador daquela experiência - por causa da sensação térmica dominando meu psicológico eu quis desistir duas vezes, ainda bem que não o fiz, o frio me uniu àquelas pessoas de quem hoje sinto falta.

Devia ter anotado sobre essa sensação térmico-afetiva nos meus primeiros instantes de Sampa, não foi fácil sair de um calor de 37°C e encarar na primeira noite 17°C, vinte graus é um bruto choque térmico, mas fui me acostumando com a amenidade da temperatura. 

CHOQUE talvez essa seja a melhor palavra para definir aquela experiência, choque térmico, choque cultural, choque de realidade, choque inclusive de afetos, tudo era chocante, das opções de almoço aos sotaques. E é impossível sair imune a tantas "eletrocuções" - no bom sentido - parecia uma experiência de quase morte revertida pela uso de um desfribilador no meu peito.

Não estou aqui invalidando a minha vivência anterior em Maceió - onde comecei a fazer teatro e continuo o fazendo - mas foi necessário me permitir ser uma extrangeira naquele momento e aos poucos ir me tornando comum, me tornando extrageira novamente ao retornar ao meu ponto de origem.

Música, som, paisagem, palavra, barrulho e descobertas internas/externas, a gente aprende a resignificar coisas simples, naquele momento eu descobri o que significa a palavra saudade e sei até hoje.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Primeira viagem internacional

Veio a calhar, minha primeira viagem internacional também foi a minha primeira oportunidade de apresentar um trabalho acadêmico em congresso, foi na I Jornada de Crítica Genética: El Análisis De Procesos Creativos En Artes Escénicas, promovida pelo C.I.D: Centro de Investigaciones Dramáticas, Facultad de Arte. Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires e IPROCAE: Proyecto Investigación de Procesos Creativos en Artes Escénicas, na cidade de Tandil, nos dias 16 e 17 de Abril de 2010, que tive meu primeiro contato "prático" com o passaporte.

Não foi nenhum bicho de sete cabeças me deslocar em Buenos Aires nem em Tandil, acho que a maior dificuldade foi mesmo o idioma, considero que os argentinos no geral são bem simpáticos, mas com relação à esse tipo de viagem garanto que eu tenho muita sorte, numa aconteceu nenhum imprevisto, e espero que nunca aconteça.

Passei sete dias em terras extrangeiras, no sexto dia me bateu uma saudade enorme dos meus amigos, da minha mãe, mas não saudades do tipo "quero voltar pra casa", mas sim do tipo "queria muito que estivessem aqui", quem sabe da próxima vez, quando for uma viagem de turismo.

O que eu constatei dessa viagem? Continuo não gostando de frio em excesso, mas também não gosto do calor nordestino. Gosto de cidades que funcionam durante a noite, se eu pensava que São Paulo não dorme, acho que posso dizer que Buenos Aires nem se cansa nem descansa... Vida noturna de verdade, lojas de conveniência de fato 24H, mas acho que não moraria lá.

Enfim, vou postar aqui uma cópia do artigo - primeiro em português e abaixo em espanhol - apresentado no evento, vai dar uma contextualização bacana para o que eu pretendo fazer neste blog.


A Formação/informação e vivências cotidianas
na construção dramatúrgica e estética do monólogo “Voo ao Solo”

Daniela Beny Polito Moraes
Atriz, dramaturga, pesquisadora em dramaturgia, graduanda em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Alagoas.
Palavras-chave: Pós-dramático, vivência e estética.

Inicialmente para analisarmos o processo de criação dramatúrgica e estética do espetáculo (monólogo) Voo ao Solo, precisamos contextualizar a inquietação para o nascimento deste espetáculo.
A dramaturgia foi elaborada tomando como ponto de partida três contos escritos por Daniela Beny durante sua residência artística em São Paulo por oito meses. Estes contos a princípio foram escritos sem nenhuma pretensão de publicação ou montagem, sendo meramente um apanhado de impressões sobre o choque cultural e o sentimento de desamparo. É importante salientar que a vivência cotidiana foi o foco desta primeira escrita, uma vez que a dramaturga/atriz estava “deslocada” (tanto geográfica como emocionalmente) de sua zona de conforto – sua cidade natal, Maceió – para o total desconforto. Porém não devemos tratar esse “desconforto” como algo negativo, pois a partir desta vivência é que pudemos chegar à obra “final”, o próprio espetáculo.

Num dos trechos do texto, a dramaturga relata: “Me sentia uma estrangeira, na verdade me sentia uma exilada, não pelo lugar onde habitava, mas pelo o que sentia estar habitando dentro de mim [...] me sentia completamente deslocada naquele lugar, no lugar que escolhi para ser meu.”, o que evidencia o impacto do deslocamento geográfico e do choque cultural tomando dimensões que extrapolavam os pensamentos da dramaturga.

Com os três contos em mãos chegou o momento de transforma-lo em um texto dramático e em processo colaborativo com Marco Antonio de Campos (encenador do espetáculo) chegamos a possibilidade de mesclar vivências recentes em São Paulo com influências literárias regionais e outros elementos que fizessem parte da formação (tanto acadêmica quanto artística) da dramaturga.

Após buscarmos fundamento nas obras de Nelson Rodrigues, Garcia Lorca e Shakespeare, chegamos a dois autores brasileiros, que, por acaso, nunca escreveram nenhum texto teatral. Lygia Fagundes Teles nos “emprestou” o conto Tigrela (que aborda um possível relacionamento homossexual de extrema dependência emocional entre uma mulher e sua tigresa de estimação) e Guimarães Rosa com o conto A Menina de Lá (com linguagem descritiva e regionalista aborda o messianismo para uma menina morta que tinha o dom de realizar o que desejava).

Neste ponto tínhamos as vivências e as influências compondo uma criação fundamentada no pós-dramático, precisávamos organizá-las de forma coerente apesar da diversidade temática, sendo assim pusemos o mítico feminino na espinha dorsal do texto, de onde sairiam várias ramificações, e cada uma delas estaria apta a propiciar diferentes sensações no público.

Tínhamos em cena uma mulher contemporânea – porém atemporal – transitando pela sua própria vida, mas sem seguir necessariamente uma cronologia, desenvolvendo as cenas da seguinte maneira:

1º espisódio: Ela recorda sua infância.
2º espisódio: Ela vivencia sua infância (apoiada no conto A Menina de Lá).
3º espisódio: Ela resgata seus amores.
4º espisódio: Ela resgata seus amigos.
5º espisódio: Ela mergulha no universo subconsciente (apoiada em preceitos freudianos) e discute sobre seus sonhos e pesadelos.
6º espisódio: Ela revela as “tentações” da dissimulação e efemeridades passionais.
7º espisódio: Ela recorda/vivencia o ápice da passionalidade e as relações doentias de dependência (apoiada no conto Tigrela).
8º espisódio: Ela se coloca como mercadoria, banalizando afetos e sensações.
9º espisódio: Ela recorda/vivencia o choque cultural.
10º espisódio: Ela regressa ao ponto de partida.

Esta trajetória já nos leva a comparação com o mito do herói grego que, deslocado de seu espaço, passa pela provação, reconhecimento e, por fim, redenção.

Justamente pela não-linearidade, buscamos uma estética que sugerisse um tom onírico à encenação, pois não contaríamos com cenografia, apenas com adereços como: chapéus de diferentes modelos, um guarda-chuva, uma maleta, uma caixinha de maquiagem e um lenço, todos vermelhos, o que, dependendo da cena, atribuía aos objetos características específicas côo desejo, medo, prazer ou estagnação, sendo estes os terminais nervosos da espinha dorsal.

Após vários testes, Arnaldo Ferju, designer de luz, criou uma iluminação cênica com corredores horizontais, refletores posicionados de modo a criar ilusões ópticas no palco, sugerindo níveis e angulações diferentes. A simetria e enquadramentos faziam com que cada cena, em conjunto com os objetos, já criassem atmosferas específicas em cada momento. Considero importante salientar que Ferju não é apenas iluminador, também é ator, sendo assim, consideramos que a execução da luz no espetáculo é um diálogo entre atriz e iluminador, apesar de se tratar de um monólogo.

O maior desafio deste processo foi a disponibilidade para se expor, uma vez que em cena não estava apenas a atriz, mas também a dramaturga, o que gerava uma dupla sensação de desnudamento, pois buscamos esclarecer sempre que tratava-se de um trabalho autoral, que, embora possua fragmentos de outras obras e conte com a colaboração de um encenador, tinha se proposto a ser autônomo e mutável, pois até hoje não o consideramos uma obra fechada.

A atriz busca no figurino preto a neutralidade, embora fuja da criação de uma personagem propriamente dita, ficando no pequeno espaço entre a atriz, a persona e a personagem, propondo em cena o mesmo desconforto experimentado na realidade.

A influência do cotidiano está justamente na possibilidade dae identificação do público com o texto, as características da sociedade moderna e seus conflitos se personificam, e isso acaba sendo inteligível para qualquer público que partilhe da cultura de uma sociedade de consumo. Neste breve instante de “representação” talvez o mais subjetivo em cena acabe provocando as reações mais objetivas na platéia, fazendo com que comunguem de um estado semelhante, mesmo que tenham sensações diferentes.

Cito Peter Brook, quando o mesmo diz: “O aspecto da realidade que cada ator está evocando deve despertar uma reação na mesma área em cada espectador, fazendo com que, por um momento, o público viva uma impressão coletiva.”, e essa impressão só é possível de se compartilhar pela experiência cotidiana, pois, mesmo que de modo diferenciado, todos já tiveram que lidar com perdas, alegrias, provações, mudanças e tristezas.

Atualmente estamos buscando a reconstrução do espetáculo, afinal passamos por constantes transformações após vivenciarmos uma infinidade de experiências, o que colabora para a resignificação e outras formas de relacionamento tanto com objetos de cena quanto com o próprio texto. Não ignoramos em hipótese alguma a possibilidade de suprimirmos algumas cenas, reescrevê-la ou apenas deslocá-la dentro da montagem.

Neste processo concluímos que, em hipótese alguma, podemos esquecer que o que nos transforma como seres humanos influencia diretamente o que criamos e recriamos como artistas. Se o dramaturgo é visto cronista de seu tempo, ele eterniza sua época nos textos, então ele também eterniza sua formação, embora o teatro seja efêmero.

Referencias Bibliograficas
BENTLEY, Eric. O dramaturgo como pensador. Trad. Ana Zelma Campos. Ed.: Civilização Brasileira, Rio de Janeiro:, 1991.
BOOK, Peter; A Porta Aberta – Reflexões sobre a interpretação e o teatro. Trad. Antonio Mercado. Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro: 2008.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro Pós-Dramático. Trad. Pedro Süssekind. Ed.: Cosac&Naify Edições, São Paulo: 2007.
ZONDI, Peter; Teoria do drama moderno: 1880-1950. Trad. Luiz Sérgio Rêpa. Ed.: Casac&Naify Edições, São Paulo: 2001.


La Formación/información y vivencias cotidianas
en la construcción dramatúrgica y estética del monólogo “Voo ao Solo”(“Vuelo al Suelo”)


Palabras-llave: Pos-dramático, vivencia y estética.

Inicialmente para analizarnos el proceso del creación dramatúrgica y estética del espectáculo (monólogo) Voo ao Solo (Vuelo al Suelo), necesitamos contextualizar la inquietación para el nacimiento diste espectáculo.

La dramaturgia fue elaborada tomando como punto de partida tres contos escritos por Daniela Beny durante suya residencia artística en São Paulo por ocho meses. Estos contos al principio fueran escritos si ninguna pretensión de publicación o montaje, siendo meramente un apanado de impresiones sobre el choque cultural y el sentimiento de desamparo. Eres importante destacar que la vivencia cotidiana fue el foco dista primera escrita, una vez que la dramaturga/actriz estaba “dislocada” (tanto geográfica como emocionalmente) de suya zona de conforto – suya ciudad natal, Maceió – para el total des conforto. Pero no debemos tratar ese “malestar” como algo negativo, pues a partir dista vivencia eres que podemos llegar hasta la obra “final”, el propio espectáculo.

En algunos trechos del texto, la dramaturga relata: “Me sentía una extranjera, pero, en la verdad me sentía una exilada, no. Por el lugar donde habitaba, pero por que lo sentía estar habitando dentro de mi [...] me sentía completamente dislocada en otro lugar, el lugar que seleccioné para ser mío.”, lo que evidencia el impacto del dislocamiento geográfico e del choque cultural tomando dimensiones que extrapolaban los pensamientos de la dramaturga.

Con los tres contos en manos llegó el momento de transforma-lo en un texto dramático e en proceso colaborativo con Marco Antonio de Campos (enseñador del espectáculo) llegamos a posibilidad de mesclar vivencias recientes en São Paulo con influencias literarias regionales y otros elementos que hiciesen parte de la formación (tanto académica cuanto artística) de la dramaturga.

Después buscarnos fundamento en las obras de Nelson Rodríguez, García Lorca y Shakespeare, llegamos hasta dos autores brasileños, que, por acaso, nunca escribieran ningún texto teatral. Lygia Fagundes Teles nos “emprestó” el conto Tigrela (que aborda un posible relacionamiento homosexual de extrema dependencia emocional entre una mujer y suya tigresa de estimación) e Guimarães Rosa con el conto A Menina de Lá (La Niña de La, con lenguaje descriptiva y regionalista aborda el mesianismo para una niña muerta que tiña el don de realizar lo que deseaba).

En este punto tiñamos las vivencias y las influencias componiendo una creación fundamentada en el pos-dramático, precisábamos organiza-las de forma coherente a pesar de la diversidad temática, siendo así pusimos el mítico femenino en la espina dorsal del texto, da donde salirían varias ramificaciones, y cada una de ellas estaría apta a propiciar diferentes sensaciones en el público.

Tendríamos en cena una mujer contemporánea – pero, atemporal – transitando por la suya propia vida, más sin seguir necesariamente una cronología, desenvolviendo las cenas de la siguiente manera:

1º espisódio: Ella recuerda suya infancia.
2º espisódio: Ella vivencia suya infancia (apoyada en el conto La niña de La).
3º espisódio: Ella rescata suyos amores.
4º espisódio: Ella rescata suyos amigos.
5º espisódio: Ella chapuza en el universo subconsciente (apoyada en preceptos freudianos) y discute sobre suyos sueños y pesadillos.
6º espisódio: Ella revela las “tentaciones” de la disimulación y transitoriedad pasionales.
7º espisódio: Ella recuerda/vivencia el ápice de la pasionalidad y las relaciones do insalubres de dependencia (apoyada en el conto Tigrela).
8º espisódio: Ella se coloca como mercadoría, banalizando afectos y sensaciones.
9º espisódio: Ella recuerda/vivencia el choque cultural.
10º espisódio: Ella regresa al punto de partida.

Esta trayectoria ya nos lleva al comparación con el mito del héroe griego que, dislocado de suyo espacio, pasa por la probación, reconocimiento y, por fin, redención.

Justamente por la no-linealidad, buscamos una estética que sugerirse un ton onírico a la encenación, pues, no contaríamos con cinografía, apenas con aderezos como: chapeos de diferentes modelos, un guarda-lluvia, una valija, una caja pequeña de maquillaje y un lienzo, todos rojos, lo que, dependiendo de la cena, atribuía a los objetos características específicas como deseo, medo, placer o estagnación, siendo estos los terminales nerviosos de la espina dorsal.

Después de varios testes, Arnaldo Ferju, designer de luz, creó una iluminación cenica con corredores horizontales, reflectores posicionados de modo a criar ilusiones ópticas en el palco, sugiriendo situaciones y angulaciones diferentes. La simetría y encuadramientos hacían con que cada cena, en conjunto con los objetos, ya creasen atmosferas específicas en cada momento. Considero importante destacar que Ferju no eres apenas iluminador, también eres actor, siendo así, consideramos que la ejecución de la luz en el espectáculo eres un diálogo entre actriz y iluminador, a pesar de se tratar de un monólogo.

El mayor desafío de esto proceso fue la disponibilidad para se exponer, una vez que en cena no estaba apenas la actriz, mas también la dramaturga, lo que engendraba una dupla sensación de desnudamiento, pues buscamos esclarecer siempre que trataba-se de un trabajo autoral, que, aunque posea fragmentos del otras obras y cuente con la colaboración de un enseñador, tendría se propuesto a ser autónomo e mutable, pues hasta hoy no lo consideramos una obra cerrada.

La actriz busca en el figurín prieto la neutralidad, aunque escape de la creación de una personaje propiamente dita, permaneciendo en el pequeño espacio entre la actriz, la persona y la personaje, proponiendo en cena el mismo des conforto experimentado en la realidad.

La influencia del cotidiano está justamente en la posibilidad de la identificación del público con el texto, las características de la sociedad moderna y suyos conflictos se personifican, y eso acaba siendo inteligible para cualquier público que partirle de la cultura de una sociedad de consumo. En este breve instante de “representación” tal vez el más subjetivo en cena acabe provocando las reacciones más objetivas en la platea, haciendo con que tomen parte de un estado semejante, mismo que tengan sensaciones diferentes.

Cito Peter Brook, cuando el mismo habla: “El aspecto de la realidad que cada actor está evocando debe despertar una reacción en la misma área en cada espectador, haciendo con que, por un momento, el público viva una impresión colectiva.”, e esa impresión solamente eres posible de se compartijar por la experiencia cotidiana, pues, mismo que de modo diferenciado, todos ya tuvieron que lidar con pérdidas, alegrías, provocaciones, mudanzas y tristezas.

Actualmente estamos buscando la reconstrucción del espectáculo, a final pasamos por constantes transformaciones después de vivenciarmos una infinidad del experiencias, lo que colabora para a resignificación y otras formas del relacionamiento tanto con objetos de cena cuanto con el propio texto. No ignoramos en hipótesis alguna la posibilidad de suprimirnos algunas cenas, reescribíla o apenas disloca-la dentro de la montaje.

En este proceso concluimos que, en hipótesis alguna, podemos olvidar que lo que nos transforma como seres humanos influencia directamente lo que creamos y recriamos como artistas. Se o dramaturgo es visto como cronista de suyo tiempo, ello eterniza suya época en los textos, entonces ello también eterniza suya formación, aunque el teatro sea efémero.

O início de tudo...

Pode parecer muito pretencioso dizer que desenvolvo um projeto, na verdade é uma inquietação que nasceu em meiados de 2008 e tomou forma em 2009 com a montagem do espetáculo Voo ao Solo.

Tudo começou quando fui morar em São Paulo em Março de 2008, inicialmente seriam seis meses naquela caótica cidade, depois eu quis ficar pra sempre (cheguei até a alugar um apartamento) e, por fim, vi que seria mais interessante para minha carreira voltar para Maceió, terminar a faculdade e ver o que o destino me reservava. Mas esse esperar pelo destino não se trata de uma passividade de apenas ESPERAR.

Minha ida para São Paulo se deu porque fui aprovada pelo projeto GEOGRAFIA DA PALAVRA, promovido pela FUNARTE SP, que visava o intercâmbio entre artistas do país inteiro convergindo para uma montagem sob direção de Antonio Abujamra.

A experiência desse deslocamento e desconforto geográfico foi de fato impactante para minha vida, morando numa cidade desconhecida, sem parentes e com 24 anos, além de me fazer crescer como pessoa - aprendendo inclusive a cozinhar - me fez rever minhas posturas quanto ao fazer teatral, as minhas responsabilidades e referencias como atriz e dramaturga ficaram mais evidentes.

Ao retornar para Maceió, ainda querendo morar em São Paulo, Marco Antonio de Campos - meu diretor, amigo, mestre, guru e adjacencias - sugeriu que eu montasse um monólogo utilizando referências literárias e o impacto dessa imersão em São Paulo. Encontrei ali minha possibilidade de trabalhar o teatro pós-dramático partindo justamente do texto (muito irônico, PÓS DRAMÁTICO partindo do TEXTO).

Querendo ou não, tenho essa relação com o deslocamento geográfico muito íntima na minha formação, quando criança - por causa do trabalho de minha mãe - morei em Vitória, no Espírito Santo, quase fomos morar em Brasília, morei em São Paulo e ainda existem possibilidades muito reais de, novamente, deixar minha terra natal para morar/viver noutro lugar.

Nasci em Maceió, fui educada em Vitória, me sinto a vontade na cidade de São Paulo, mas minha fortaleza e porto seguro continuará sendo a casa de minha mãe (independente de onde ela esteja morando).

Nesse blog relatarei viagens, impressões de fatos marcantes, postarei fotos, vídeos e coisas que venham a acrescentar... me sinto meio cigana às vezes, pertecendo à qualquer lugar e ao mesmo tempo à lugar nenhum, sendo nação, mas não tendo pátria, sendo eu mesma meu próprio território.


ESPERAR ATIVAMENTE MEU DESTINO, OPORTUNIZAR PARA QUE ELE SE CONCRETIZE, É ISSO QUE EU PRETENDO.