terça-feira, 17 de agosto de 2010

VOO AO SOLO 2.0

Ainda não sei bem o que estou pesquisando, ou o que pretendo pesquisar, mas como o espetáculo VOO AO SOLO foi selecionado para participar do XVII Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga/CE, Marco Antonio (meu querido diretor) e eu pensamos em fazer algumas modificações no texto, para explorar principalmente o meu desconforto em cena. Pois é, agora mais exposta do que nunca, o que não é de todo ruim, é só outra forma de se mostrar e de se resignificar. Eis o novo texto:

Ela me ligou (?)

Ela me ligou, sabia que eu não estava aqui, sabia que eu não ia atender, que eu não podia atender, mas mesmo assim me ligou. Só vi seu telefonema cinco horas depois, mandei mensagem, perguntei se estava tudo bem, se era urgente. Ela nunca me ligou, nunca, mas naquele dia fez. Podia ser por qualquer coisa, qualquer motivo tolo ou emergencial... Por que diabos ela me ligou? Alguns poucos minutos separaram minha mensagem do novo telefonema, retornei, nunca tinha escutado sua voz ao telefone, os ruídos, a má qualidade da ligação quase fazia impossível nossa comunicação, mas ainda assim eu era capaz de ouvir sua voz. Como sempre, brincou, falou do tempo, da agenda de trabalho, das dores musculares... e me deseja feliz dia do amigo... Como assim? Feliz dia do amigo? Ela é minha amiga? Ela me considera como amiga? A maioria dos meus amigos fez isso mandando mensagem pra o meu celular, ou pra o meu Orkut, ou facebook, ou twitter. Ela nunca me ligou, será que realmente só telefonou pra me desejar “Feliz dia do amigo”... é muito deboche, mas eu não fiquei ofendida não, muito longe disso, na verdade eu queria ter falado com ela, pra saber o que se passava pela sua cabeça, mas eu continuava sem saber o que de fato estava acontecendo. Parecia que todos os pensamentos descoordenados povoavam minha mente, e dois deles me saltavam aos ouvidos com aquela voz que eu nunca tinha ouvido pelo telefone. Minha consciência pessimista interpretava o telefonema assim: “Perceba que eu considero você como AMIGA.”, já minha consciência otimista com mania de construir castelos de areia só conseguia ler os sinais assim “Eu tô com saudades de você e precisava de um motivo bem ridículo pra te ligar e poder escutar sua voz.” Provavelmente o telefonema só significava o que realmente significava, nem mais nem menos. Mas o problema estava no fato de eu ter assumido ter sentido saudades, eu, eu mesma tinha me ofendido com toda essa sinceridade espontânea – quatro taças de vinho na cabeça me faziam ridiculamente espontânea.

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